Milhares na Foz assistem ao “banho-santo” de São Bartolomeu
Publicado pela agência Lusa a 24 de Junho de 2014.
Milhares de pessoas assistiram ao desfile e ao “banho-santo” de cerca de 350 participantes da tradicional Festa de São Bartolomeu, que vestidos em roupas de papel, mergulharam no mar da Praia do Ourigo, na Foz do Porto.
Os banhos são precedidos de um cortejo alegórico pelo Passeio Alegre, que este ano contou com o desfile de 28 figurantes da união de freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, trajados em papel delicado que serve depois de arremesso, do mar para terra, à medida que os fatos se desmancham no “banho-santo” e são atirados a quem se limita a assistir.
Estima-se que esta tradição andrajosa tenha mais de 150 anos, mas a explicação para as suas origens varia de acordo com quem conta a história. Nuno Ortigão, presidente da Junta da união de freguesias, assegura que “ninguém sabe muito bem como é que isto surgiu”. Para Eduardo Oliveira, “nascido e criado” na Foz do Douro, terá “algo a ver com as pessoas pobres vestirem-se com papel de jornal, antigamente”.
Acabado de sair do mar, Eduardo Oliveira dizia à Lusa que, na qualidade de presidente do Orfeão da Foz do Douro, já se lançou ao “banho-santo mais de dez vezes”, no espírito de uma tradição que remonta à altura em que “as pessoas com poucas possibilidades faziam a sua própria roupa, até com jornais, que depois se desfaziam ao tomar banho”.
“Tinham que ir à água sete vezes”, explicou o presidente do Orfeão da Foz do Douro, esclarecendo que “só assim expulsavam todos os males que iam acumulando ao longo do ano”.
O Orfeão da Foz fez-se representar entre outras coletividades que envergavam trajes alusivos ao que mais caracteriza as respetivas freguesias, desde os candeeiros públicos pintados de verde do Passeio Alegre, às janelas das casas da Foz Velha, com a participação da Academia de Dança e Cantares do Norte de Portugal, a Escola EB S. João da Foz e a associação Paraíso da Foz.
Para Susana Pinto, contabilista de 41 anos, desfilar com a Escola S. João da Foz foi um regresso “aos tempos de pequenina”, com a vantagem de agora poder viver mais a experiência, já que enquanto criança não tinha “tanta noção” da originalidade da festa.
“É um evento único que as pessoas têm mantido com muito amor e muito carinho”, considerou o presidente da união de freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, classificando o evento como “algo único no país”.
Segundo Nuno Ortigão, falta apenas tornar a festa “mais inclusiva nos próximos anos, para que qualquer pessoa possa participar”.
Imagens: André Sá © 2014.
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